3.12.04

As Mulheres Mais Perversas da História

Do jornal O Globo:

"Livro 'As mulheres mais perversas da História' chega ao Brasil

Bianca Kleinpaul - Globo Online


Mulheres Mais Perversas da História, As SHELLEY KEINRIO - A imperatriz Catarina, a Grande, tratava os servos pior do que seus animais. Messalina, a devassa, avarenta, tirana e assassina, virou sinônimo de todos os vícios e defeitos femininos no decorrer dos séculos. A prostituta Aileen Carol Wuornos, considerada a primeira serial-killer dos Estados Unidos, teve uma trajetória de crimes tão cruéis que virou filme ano passado, "Monster - Desejo assassino", estrelado pela bela oscarizável Charlize Theron. Estas e mais outras 12 criminosas que, em algum momento, mancharam as páginas da humanidade, estão no livro "As mulheres mais perversas da História", escrito pela britânica Shelley Klein e lançado agora no Brasil pela editora Planeta.

A obra chega às livrarias juntamente com "Os ditadores mais perversos", também de Shelley Klein, onde constam - obviamente - homens como Adolf Hitler, Sadam Hussein, Herodes, Gêngis Khan, Nicolae Ceausescu e Anastasio Somoza. Em julho, a Planeta também lançou "Os mais perversos da História", de Miranda Twiss. Mas é "As mulheres mais perversas da História" que chama a atenção do leitor. Não só pela sua capa pink, o título e as imagens de algumas das mais terríveis criminosas que conhecemos, mas principalmente por se tratar de barbaridades cometidas pelo chamado sexo frágil.

Na introdução do livro, Shelley Klein justifica a curiosidade que um livro como esse cria entre os leitores: "Quando uma mulher se desvia desse caminho e comete o tipo de crime pelo qual os homens costumam ser responsabilizados, ela não é difamada só pelo ato em si, mas também pelo fato de ser mulher. 'Como pôde ter feito uma coisa tão horrível?', perguntam as pessoas, mas, na verdade, querem dizer: 'Como uma mulher pôde ter feito uma coisa tão horrível? Claro que é antinatural. É claro que ela deve ser um monstro".

De monstruosidade o livro está cheio. Impossível ler as 278 páginas sem ter um misto de indignação, repulsa, raiva e uma série de questionamentos, entre os quais o porquê de essas mulheres cometerem crimes tão perversos, alguns contra os próprios filhos, pais e irmãos, além de estupros, torturas, envenenamento e maus-tratos a crianças.

Coincidência ou não, todas as histórias têm o envolvimento direto ou indireto de um homem. Sejam eles comparsas nos crimes, influenciadores, culpados pelo passado delas ou simplesmente por acobertarem tamanha crueldade. A escritora garante que isso não as absolve, mas...

- Elas poderiam dizer 'não', mas será que se essas mulheres teriam se tornado assassinas se não conhecesse esses homens? Eu acho que os homens envolvidos em casos como os de Rosemary West, Karla Homolka e Myra Hindley provavelmente cometeriam crimes parecidos se não conhecesse essas mulheres - afirmou Shelley em entrevista ao Globo Online, de Londres, onde trabalha como free lance organizando, editando e escrevendo livros.

Entre os tipos de crimes mais variados há o de infanticídio, comumente cometido por mulheres. Há inclusive dados descritos no livro: o sexo dito frágil representa menos de 2% dos assassinos mas quando se trata de homicídio de crianças a porcentagem sobe bastante. No entanto, apenas um caso como esse foi incluído no livro.

- Há casos de infanticídio famosos, principalmente na América, mas não quis incluir mais que um tipo de crime no livro. E o caso de Maria Noe (acusada de assassinar oito dos seus dez filhos bebês em 1998) parece resumir todos eles - explica Shelley.

E a sociedade as absolve?

- Não acredito. Mesmo nos casos em que realmente os homens tiveram influência, como é a história de Aileen Carol Wuornos - onde acredito que os abusos na infância influenciaram seus assassinatos -, ela também não foi absolvida. E também no caso de Mary Ann Cotton (acusada de matar quatro maridos e mais 15 ou 20 pessoas, entre a mãe e os filhos legítimos e adotivos) que cometeu os assassinatos por medo da pobreza.

Muitas das pequenas biografias do livro são de personagens históricas mas duas - por mais que sejam famosas e muitos já tenham ouvido falar - podem atrair leitor a um contato maior sobre a vida dessas mulheres. A primeira delas é Agripina, a Jovem. Bisneta do imperador Tibério, irmã do imperador Calígula, sobrinha e quarta esposa do imperador Cláudio e mãe do imperador Nero, ela - nascida em 15 d.C - tinha um desejo tão arrogante de influência política e ganância por riquezas, além do desprezo pela vida humana, que escandalizou até a corte embotada da Roma Imperial. Fez tanta maldade que o filho não desistiu até conseguir mata-la.

Valéria Messalina pode não ser tão famosa para alguns mas seu nome sim. Suas luxúrias e crueldades viraram adjetivo feminino desde sua adolescência, em torno de 30 anos d.C. No livro, ela é descrita como uma das mulheres "mais astutas politicamente e mais cruelmente ambiciosas" do mundo, chamada, inclusive, de "loba em figura de gente" na fraca tradução de Dinah de Abreu Azevedo.

Casada aos 15 anos com o imperador Cláudio, seu tio, Messalina mandava matar por ciúmes, vendia a cidadania romana tirando proveito próprio, promovia orgias aos olhos do marido e chegou até a se casar com outro homem enquanto o consorte viajava. O que foi sua gota d'água: morreu assassinada ao mando do marido imperador.

Há outras famosas criminosas mais recentes como Myra Hindley, cujo nome nunca mais apareceu em criança alguma da Grã-Bretanha desde 1966. Era a pessoa mais detestada da Inglaterra e, por causa de uma fotografia tirada em 1966 na prisão dela, se tornou um símbolo do mal. Ela e o namorado Ian Brady estupravam e matavam cruelmente jovens e adolescentes de Manchester na década de 60.Mulheres Mais Perversas da História, As SHELLEY KEIN

Se ler histórias como essa não é fácil para o leitor, imagina escrever. Mas Shelley Klein garante que não foi pior do que escrever sobre os ditadores mais perversos.

- Não foi mais fácil escrever os ditadores apesar de ser menos doloroso, já que os crimes foram em larga escala que as tragédias pessoais não tão famosas nas nossas mentes. Foi difícil falar dos ditadores tendo eu uma avó e vários membros da família do meu pai assassinados em Auschwitz. O capítulo de Hitler foi o mais doloroso - conta Shelley. - No entanto, senti um misto de emoções escrevendo sobre as mulheres. Ia de tristeza até à raiva e repulsa. Em particular na história de Myra Hindley, extremamente doloroso porque envolvia crianças. E de Karla Homolka (que abusava de menores, tirava fotos pornográficas e os matava ao lado do namorado), pela maneira que cometeu seus crimes."